Tenho a alegria de postar essa matéria que considero muito especial, de autoria da minha querida colega, Doutora Mirla Regina, que aborda com maturidade a problemática do abuso do poder religioso num regime democrático como o nosso, principalmente na época das eleições. Parabéns Doutora Mirla !!!
ABUSO DO PODER RELIGIOSO
Uma nova figura no direito eleitoral ?
Mirla Regina da Silva Cutrim
Juíza de Direito do Terceiro Juizado Especial Cível
Quando o assunto é abuso do poder, tema tão caro e imprescindível à democracia e à liberdade do voto, temos um cenário novo para discutir: o abuso do poder religioso e o assédio moral aos fiéis, que tem agitado a reflexão da sociedade sobre a necessidade de revisão da legislação eleitoral vigente.
Um dos trechos mais famosos da obra “O Espírito das Leis” de Charles Montesquieu destaca que “é uma experiência eterna que todo homem investido no poder é tentado a abusar dele”. E ele ainda ironiza: “Quem diria! A própria virtude tem necessidade de limites” sendo necessário, para evitar o abuso, que “o poder freie o poder”. E é no período eleitoral que o poder mostra sua pior face. Raramente usado como virtude, transforma-se em paixão violenta, ou melhor, em guerra de paixões onde vale tudo, do assédio moral à compra de votos, e assim se eterniza na nossa história.
Já são conhecidas algumas formas de abuso de poder, quais sejam, o econômico, o político, o ideológico, o da informação e o da autoridade. Mas o poder religioso é novidade das mais recentes eleições. Não só porque passa por cima das leis humanas e das leis de Deus, mas devidos aos meios e artifícios utilizados pelas lideranças políticas, tudo com o indigesto aval das lideranças religiosas.
As condutas vão desde o registro de números de candidaturas de fácil vinculação com números bíblicos, arregimentação de discípulos de células como cabos eleitorais, pedidos de votos na porta das igrejas até os apelos mais emocionais possíveis no altar, durante os cultos de celebração, com uma suposta base equivocada na Palavra de Deus.
É certo que a religião tem o seu poder positivo, de transformar pessoas que buscam cura na alma, estimulando comportamentos que colaboram com a paz na sociedade. É igualmente imprescindível o seu papel de conscientização social, orientando os fiéis na escolha de candidatos que possam contribuir com o aperfeiçoamento da sociedade.
Como em qualquer outro local, o ambiente religioso é também construído socialmente e o cristão, onde quer que esteja atuando deve atuar em conformidade com os preceitos bíblicos. Isso vale para o lar, para os amigos, para a profissão e para a política.
Agora, inaceitável que, como as demais formas espúrias de poder e dominação, o poder religioso venha a atrair aqueles que queiram transformá-lo em um trampolim político, merecendo tal conduta não só a repressão legal da justiça eleitoral, como a repressão interna das autoridades religiosas.
Os últimos dias têm sido marcados pela revelação, não a revelação divina que vem por meio dos profetas, mas pela queda das máscaras daqueles que dizem seguir a Deus e na verdade apenas envergonham o Evangelho de Cristo. Mas isso também procede de Deus, ao providenciar que mais cedo ou mais tarde surjam circunstâncias que venham a expor aqueles que usam indevidamente seu Santo Nome em busca de interesses meramente pessoais.
Se é verdade que por meio das eleições os cristãos almejam uma mobilização que faça revigorar valores perdidos na sociedade, cuja ausência tem culminado com o aumento da violência, também se pode afirmar que esses mesmos cristãos devem ser exemplo a partir de seus atos políticos, seguindo o caminho mais correto possível.
Nessas eleições, encontram-se dois casos paradigmáticos sobre a ética cristã. O primeiro caso ocorre quando um candidato, sendo evangélico, abre mão de utilizar essa situação para a disputa, deixando a liberdade de escolha aos fiéis que conhecem seus planos e programas de trabalho. O segundo caso ocorre quando outro candidato faz justamente o contrário, usando argumento de ser evangélico para arregimentar os eleitores por meio de práticas totalmente desaconselhadas pela Bíblia.
Na segunda hipótese, fica mais do que configurado o abuso do poder religioso, o que, ante o silêncio da lei eleitoral nesta parte, autoriza a aplicação das mesmas normas de repressão para as demais formas já previstas.
A eleição que interessa a Deus é de cunho espiritual e envolve a escolha de seus eleitos para seguir um evangelho puro e simples, que promova edificação de caráter, e não a degradação moral e a afronta à dignidade humana.
O historiador Geoffrey Blainey concluiu o livro “Uma breve história do mundo” afirmando que todos os triunfos da ciência e da tecnologia foram superficiais: foi mais fácil dominar as doenças do que o comportamento humano. Mas esse também não fica sem remédio. Certamente, ainda há um longo caminho para que se possa alcançar um equilibro entre esse rigor e a flexibilidade das leis eleitorais, associando a liberdade política com a ordem constitucional vigente. Mas por enquanto, o que se precisa mesmo, é ação rigorosa contra a corrupção, o abuso e o assédio moral, em todas as suas formas.
Cordiais saudações!!
Olá Marcelo, que maravilha a notícia sobre o seu blog.
ResponderExcluirFicou muito bom!!! Parabéns, mesmo.
As matérias estão ótimas, a estrutura do blog também.
Todas as matérias estão especiais. Entre elas a intitulada "ABUSO DO PODER RELIGIOSO" escrita por Mirla Regina, que vem de encontro aos anseios que devemos imprimir em nossas práticas religiosas; para mim de grande valia,pois inclusive visando a construção e crescimento do movimento verdadeiramente ecumênico aqui no Acre, através dos objetivos e princípios do recém-formado Instituto Ecumênico Fé e Política - IEFP, divulgarei a matéria sugerindo visita ao seu blog, assim como de forma impressa para outros membros sem acesso a internet.
Despeço-me com abraço fraterno, prometendo visita constante e envio em breve de matéria para avaliação e publicação em seu blog, com muito prazer.
Maria José
Dirigente do C. E. Portal Francisco Cândido Xavier, em Rio Branco-AC;
Secretária Adjunta do Instituto Ecumênico do Acre
Jovem muçulmana apedrejada até a morte na Ucrânia, pelo simples facto de ter participado num concurso de beleza.
ResponderExcluirDestruir, perseguir, ou a tentativa de diminuir alguém, apenas para honrar ou salvaguardar uma tradição religiosa, um colectivo ou interesse pessoal, é amoral constitui um atentado à Carta Universal dos Direitos Humano. Mas infelizmente muitos são os que, embebidos por uma fé despropositada julgam que ao serem bárbaros fazem valer a ideologia que defendem. Torna-se urgente fazer esses homens, dotados desse sentimento extremo e absurdo, compreenderem que, esses actos são ofensas agudas à toda sociedade, um desrespeito ao que se consagrou na carta dos direitos do homem, nomeadamente o respeito pela liberdade, e intimidade das pessoas.
Esses homens, autênticos inimigos da boniteza da jovem, odiaram-na, assim sendo para fazerem valer as suas exigências, bem como o cumprimento das suas leis apedrejaram-na até a morte, afim de puderam intimidar os demais afectos à sua religião. Um exagero extremo, devia ser expulsa simplesmente? Julgam que possuem algum poder para avaliar a situação e condena-la à morte.
Essa é mais uma demonstração de um caso em que, uns se consideram superiores, só pelo simples facto de representarem ou pertencerem a uma instituição. Com que legitimidade isso é permissível? Há certas pessoas que se vêem ao luxo de anular o papel da mulher ou a sua participação em algo que pouco lhes interessam.
A religião islâmica ao invés de se zelar para promoção da felicidade do homem, bem como para o uso das suas leis de forma responsável, conjuntamente aos demais sistemas, optam por insultar e anular os que se demonstram ou pretendem romper e afastar da sua ideologia.
Participação num concurso de beleza constitui um erro, uma ofensa uma desobedencia à essa religião a seu ver mas, o apedrejamento constitui um erro maior, na medida em que contrapõe a liberdade do outro é mesmo um atentado à lei civil. As leis foram elaboradas para serem aplicadas de forma responsável, para construção, para elevação da sociedade, do seu integrante em particular. Está-se agir legal e coerentemente quando se aniquila alguém, com o simples objectivo de elevar o nome de uma instituição religiosa?
A menina foi impedida de exibir a sua beleza pelos monstros (pessoas feias e de fé despropositada), pessoas que embora sejam seus irmãos só aprenderam a valorizar a beleza à escondida, ao seu modo, crentes que, entendem da boniteza quando coberta e exposta só para si. Isto constitui um abuso, de poder e de representação por parte daqueles que, em nome da religião violam constantemente os direitos dos inocentes seus semelhantes.
Deus é amor beleza, liberdade e felicidade, Ele criou os homens para se amarem e não para se usarem ou destruírem um ao outro. Basta a violação da privacidade do outro dos seu direito a participação em eventos. Ninguém deve ser tomado como sendo refém ou «propriedade» do outro.
Há de vir o dia em que, todos se consciêncializem de que, agindo racionalmente e tendo um sentimento harmónico, desnecessária seria qualquer religião. A religião está em cada pessoa, encontra-se nos valores bons e aceitaveis nas virtudes, que procuramos transmitir .Assim não está acima de tudo, ela enquanto instituição deve-se antes contribuir para a tranquilidade, e a paz de espírito de cada ser em particular e não optar pela violência, diferença e anulação das realizações dos desejos ou expetativas dos que nela crê , quaisquer que sejam, (homens/mulheres) , pois primeiro são as pessoas criadas por Deus, a religião depois para servir-las de forma igualitária e responsável.
Ótimo artigo! Td mundo deveria ler! Parabens DRa Mirla Regina!
ResponderExcluirÓtimo Um dia todos vão saber e aprender essa realidade!
ResponderExcluirTodos vão entender mais sobre reencarnação !!
Cleone Antonio Euflásio!
Jau Estado de são paulo.
Um grande abraço!!!